sábado, 24 de novembro de 2012

Príncipe


Todos nós achávamos que o Príncipe era um gato sortudo. Apareceu meio perdido pelo bairro felino e foi aceite sem problemas (isto se não contarmos com a ilusão inicial de que se tratava de uma gata...). Assim se explica a origem do seu nome. Mas o Príncipe nunca cresceu muito, nunca engordou, andava sempre constipado, não fazia asneiras (como todos os gatos pequenos fazem). Deixou de comer, emagreceu, esteve internado dias e dias. Mas a insuficiência renal não é só coisa de humanos e a dele era irreversível.
Todos nós achávamos que o Príncipe era um gato sortudo. Até um dia.

domingo, 18 de novembro de 2012

A Mãe


A gata Mãe não tinha nome, não tinha casa nem comida, nem festas ou colos. Não tinha cobertores ou lareiras no Inverno, nem parapeitos solarengos no Verão. A gata Mãe só tinha uma coisa: O Medo. Na verdade, ela era a imagem perfeita do Medo. Nunca soubemos porquê (às vezes é melhor permanecer na ignorância). 
Passado muito tempo, aos poucos, a gata Mãe foi se chegando mais de perto, primeiro por motivos alimentares, depois em busca de parapeitos e cobertores, por fim aproximando-se do afecto. Tornou-se na rainha do bairro felino, perdeu a desconfiança, atingiu a essência do ser-se gato, coisa que nunca tinha sido até então. 
Um dia, a gata Mãe desapareceu. Não sabemos para onde nem como. Sabemos que pelo meio deixou uma quantidade de pequenos seres que entretanto cresceram e se tornaram gatos com todas as letras. Daí o seu nome brechtiano. Daí que continue a estar entre nós.

Gatinho


O gato de veludo. Tantos nomes possíveis que fizessem justiça à sua beleza mas a imaginação humana não chegou a tanto e passou a chamar-se apenas Gatinho. O melhor amigo do Whicapi que também conseguiu ganhar a amizade de um coelho anão meio acéfalo que por ali vivia. O Gatinho comia de tudo, até migalhas de pão no chão da cozinha. Por esse motivo tinha a alcunha de Numatic, uma marca de aspiradores. E punha as patas às "10 para as 2" e tinha a ponta da cauda partida. Era, portanto, um gato original. Nunca cheguei a conhecer a real personalidade do Gatinho. Ele nunca deixou de ser um gato pequeno, não teve tempo de crescer, não teve tempo de aprender que o medo, às vezes, é essencial à sobrevivência. Mesmo que seja à porta de casa.

sábado, 17 de novembro de 2012

Rola


O gato Rola chamava-se assim porque fazia barulho a respirar. O gato Rola não precisava de um guizo para espantar os pássaros pois imitava o som deles mesmo sem querer. Todos os minutos, todas as horas e todos os dias. Apesar disso, o gato Rola era um herói, o chefe dos gatos vadios, o gato "cigano" como alguns lhe chamavam. O gato Rola sabia sempre o que queria e sabia que gostávamos dele, mesmo não sendo um gato caseiro e silencioso. Foi por isso que nos escolheu, deixando a sua antiga casa e respectivo conteúdo humano. 
Quando o gato Rola apareceu pela última vez, à porta de casa, já não se ouviu o seu ruído costumeiro. E nós nunca chegámos a perceber se tinha chegado a sua hora ou se alguém a fez chegar mais cedo. 


Joeli


O gato-vaca-leiteira. Veio com o saco do pão, numa certa manhã de Domingo. Viveu na Rua da Amargura, mas nunca amargurado. É e sempre foi um gato feliz, não conhece o medo, não sabe que há pessoas boas e pessoas más, por isso gosta de todas e a todas acena com as suas patas felpudas um "bom dia" descomplicado. Não existem problemas na cabeça do Joeli. O único é mesmo a contradição entre o seu nome horrível e a sua beleza felina. Mas isso é outra história. E o Joeli pouco se importa com ela.

Whicapi


O gato dos vizinhos que decidiu mudar de casa. Foram as primeiras pantufas felinas a pisarem aquele chão. Assim, insidiosamente, sem rodeios nem pedidos de autorização, o gato preto com ar de mau mas com o melhor coração do mundo. O gato que caiu do 7º andar e só gastou uma das não sei quantas vidas que tem. Hoje é um gato idoso, daqueles que já passaram por "não deverá durar mais que três semanas". Foi outra vida gasta, apenas. Hoje, mais do que nunca, continua destemido a invadir a casa alheia.

Tofu


Tofu, o gato medricas.
Tofu, o gato especial.
Tofu, o gato desprovido de neurónios.
"Tofu, porque andas a gastar oxigénio?"
(dizem as más línguas)

O Tofu é o meu gato, se é que algum gato tem dono. 
Desde 2009 a viajar ao meu lado. A pé, de metro, comboio ou autocarro, de carro e pela vida fora. 
(Havia muito mais para dizer sobre o Tofu, mas a única coisa que importa é que somos inseparáveis)